Na tarde do dia 6 de julho, foi realizado o “Simpósio Dependência Química: Prevenção, Tratamento e Ressocialização”, no auditório da AMRIGS. O evento foi proposto pela Frente Parlamentar da Dependência Química da Câmara de Vereadores, pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre e pela Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS).
Juntamente com a Vereadora Psicóloga Taise Sabino, integraram a mesa de abertura do Simpósio o Secretário Municipal de Desenvolvimento Social, Léo Voigt; o Secretário de Educação, José Paulo da Rosa; os representantes da Saúde Mental da Prefeitura, Gabriel Mazzini e Mateus Cunda.
O Presidente da AMRIGS, Dr. Gerson Junqueira Junior, na abertura do evento, referiu que “é uma satisfação para a Associação Médica do Rio grande do Sul receber um simpósio deste porte e ser parceira na realização do mesmo. O tema da dependência química não é novo, mas é sempre necessário. A dependência química é um problema complexo e generalizado que afeta não apenas indivíduos, mas também suas famílias, comunidades e sociedade como um todo”, afirmou o Dr. Junqueira ao saudar os participantes do simpósio.
A Presidente da “Frente Parlamentar Dependência Química: Prevenção, Tratamento e Ressocialização”, a Vereadora Psicóloga Tanise Sabino, ao saudar os presentes, trouxe dados estatísticos que comprovam a necessidade e urgência de discutir a questão da dependência química: “chama atenção que, atualmente, o consumo de substâncias psicoativas vem crescendo cada vez mais, atingindo todas as faixas etárias, incluindo as crianças de 10-12 anos. O início do uso de drogas tem sido cada vez mais precoce. Segundo pesquisas, cerca de 275 milhões de pessoas usaram drogas no mundo no último ano, e mais de 36 milhões de pessoas sofrem de transtornos associados ao uso de drogas, de acordo com o Relatório Mundial sobre Drogas 2021 do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). De acordo com o Ministério da Saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS), em 2021, registrou 400,3 mil atendimentos a pessoas com transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de drogas e álcool, no Brasil”, frisou a parlamentar, destacando ainda: “diferentemente do que muitas pessoas pensam, a dependência química nada tem a ver com mau comportamento, falta de caráter ou de força de vontade. Trata-se de uma doença crônica, e que precisa ser tratada”.
O Secretário de Educação, José Paulo da Rosa, confessou ser eu primeiro evento oficial à frente da pasta, e falou da honra de assumir a esta secretaria e o quanto a educação pode dar uma contribuição fundamental para o tema deste simpósio. “Eu aceitei o desafio em ser secretário do município para contribuir no processo de mudança da educação na capital, pois depois de muitos anos conhecendo e estudando boas práticas ao redor do mundo, em especial na Ásia, que a partir da priorização da educação alcançou outro patamar, chegou a hora de colocar estes conhecimentos em prática aqui, para que o índice do conhecimento de nossos estudantes não sejam um dos mais baixos do país. Para tanto, quero contar com a ajuda de todos vocês, assim teremos menos problemas como o que estamos discutindo hoje aqui”, declarou o Secretário da Educação.
O Secretário de Desenvolvimento Social, Léo Voigt, sociólogo de formação, falou de sua alegria de estar em uma mesa de abertura com três psicólogos, destacando: “O trabalho afinado entre saúde e assistência social pode contribuir de forma mais efetiva para a sociedade. Fico muito feliz em constatar esta transversalidade aqui em nossa capital, pois muitas vezes as pessoas que estão em situação de vulnerabilidade social também têm sofrimento psíquico ou uso abusivo de substâncias psicoativas, ou mesmo ambos, e para que possamos trabalhar nestes três eixos, prevenção, tratamento e ressocialização, é fundamental ter profissionais da saúde atuantes”, referiu o secretário.
O primeiro painelista da tarde, Rodrigo Cachoeira, compartilhou a dinâmica do projeto Papo Responsa da Polícia Civil, que tem obtido ótimo resultados junto a adolescentes nas escolas, ao atuar não somente com os jovens mas também com pais e professores. “Abrimos um espaço de comunicação com escuta ativa e apostamos no tripé alunos-professores-famílias. Além de dúvidas, acabamos recebendo também denúncias de abusos, assédio e outros crimes”, conta Rodrigo, entusiasmado com a canal de confiança estabelecido nas escolas. O policial também destaca que o programa Papo Responsa ganha credibilidade com ações simples e necessárias: “Quem cuida do cuidador? Parece óbvio, mas é surpreendente a receptividade de pais e professores quando trazemos esta questão e nos colocamos à disposição para ajudar. O que percebo é que há muita carência de informação quando se fala em dependência química. É por isso que mais uma vez parabenizo a vereadora Tanise Sabino por esta iniciativa, bem como a AMRIGS e a Prefeitura de Porto Alegre”, completou Cachoeira.
Dr. Sergio de Paula Ramos, médico psiquiatra, uma autoridade no tratamento da dependência química, autor de diversos artigos e livros sobre o tema, compartilhou sua experiência, destacando o quanto a empatia é necessária para que o tratamento avance: “Eu fiquei quatro anos sem beber, para entender o impacto deste hábito na vida de meus pacientes, foi uma experiência muito interessante. Despertar a motivação do paciente é o primeiro passo para que ele seja nosso aliado na busca da desintoxicação. Para que esta aderência seja conquistada, também não podemos deixar de lado a proposta de uma mudança de estilo de vida, que traga bem-estar para o adicto”, referiu Sérgio de Paula Ramos. Sérgio destacou ainda que não existem novidades quando se fala em tratamento, contudo, elas precisam ser propostas para a vida do paciente: “é o que chamo de aritmética do prazer, trocar um hábito ligado a adição por outro que traga qualidade de vida, é preciso mostrar os ganhos da abstinência e assim virar a chave”, completa o médico.
Charles Dan cativou a plateia ao relatar sua trajetória pessoal de ex-dependente de álcool e drogas e respondeu de forma efetiva perguntas desafiadoras como a busca de uma fórmula para conciliar ciência e fé. “Eu não entro em choque com a ciência, mas afirmo que precisamos deixar de lado nossas crenças limitantes, pois sou a prova viva de que é possível mudar sim”, declarou Dan que superou a adição e hoje trabalha com um projeto social que afasta e protege crianças e adolescentes da problemática da dependência química no bairro Santana em Porto Alegre.
Falando de ressocialização, Charles Dan também destacou que além de acreditar é preciso deixar para trás a culpa da drogadição e “preencher todos os dias com o hoje, combatendo a ansiedade de pensar demasiadamente no futuro”. O empreendedor social centrou toda sua apresentação em três palavras-chave: identidade, capacidade e merecimento. “Precisamos nos conhecer (identidade), entender nossos dons (capacidade) e acreditar (merecimento)”, concluiu Dan.
Cada um dos painelistas recebeu um livro sobre a temática, presente do Grupo A, que apoiou o evento.
Grupos como Amor Exigente, Alcoólicos Anônimos, NATA, NAREP, Projeto mais Família e Comunidades terapêuticas participaram do encontro, que também contou com participantes das cidades de Lageado, Carazinho, Sapiranga e Campo Bom. Também prestigiaram o evento o Vice Presidente da Comissão de Saúde da OAB, Lucas Lazzaretti; a Presidente do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas de Porto Alegre (COMAD), Fernanda Silva da Silva; o Secretário Adjunto de Administração e Patrimônio, Richard Dias; e a Diretora do Segmento Saúde do SICREDI, Simone Amado.